O nexo entre energia e descarbonização
transporte: papéis dos agentes públicos e privados

ATORES, NECESSIDADES, CONTRIBUIÇÕES E INTERESSES

O mapa conceitual produzido mostra que as conexões entre os dois setores são múltiplas e complexas. Cada conexão envolve relações entre diferentes atores que influenciam os elementos do sistema. O impacto sobre esses elementos e suas interações com outros elementos da rede são regidos pelos interesses que motivam cada ator. O diálogo e a colaboração permitem que esses interesses sejam discernidos, que as necessidades de cada ator sejam atendidas e que contribuições significativas sejam feitas para a formulação e a implementação de políticas e estratégias. A promoção do trabalho coordenado entre os agentes de energia e transporte otimiza os recursos disponíveis e aumenta o impacto de suas ações.

Com base em duas conexões entre o setor de energia e o setor de transportes, selecionadas pelos participantes do primeiro workshop, os diferentes atores envolvidos (dos setores privado, público e terceiro setor) são analisados e discutidos em mais detalhes a seguir, identificando seus respectivos interesses, necessidades e contribuições para a articulação para a descarbonização do transporte. O objetivo foi apresentar as informações de forma concisa e prática, de modo que pudessem servir de apoio para fortalecer e complementar o trabalho coordenado entre os membros de diferentes setores e áreas.

  • Atores
  • Interesses
  • Necessidades
  • Contribuições

ATORES

  • SETOR PÚBLICO

    Fatores climáticos e de políticas setoriais

    Governos nacionais e subnacionais

    Reguladores

    Partidos políticos

  • SETOR PRIVADO

    Empresas de energia e produtores de biocombustíveis

    Instituições financeiras

    Operadoras de transporte

    Fornecedores de tecnologia e equipamentos, fabricação de veículos (incluindo montadoras de veículos)

    Associações comerciais

    -Empresas usuárias de transporte

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  • TERCEIRO SETOR

    Academia e centros de P&D ONGs e sociedade civil

    Agrupamentos de sindicatos

    Associações de consumidores

    A mídia

    Agências de cooperação internacional, especialmente aquelas voltadas para a descarbonização do setor de energia (por exemplo, Net Zero World e USAID).

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INTERESSES

  • SETOR PÚBLICO

    Incentivar o trabalho conjunto para o cumprimento das NDCs e demonstrar interesse nas mudanças climáticas, integrando o setor privado às mesas redondas de diálogo.

    Impulsionar a transição energética e a descarbonização do transporte, mantendo a confidabilidade dos sistemas de eletricidade.

    Manter a sustentabilidade fiscal e garantir a receita tributária.

    Fortalecimento da governança.

    Promover a geração de empregos verdes relacionados à eficiência energética no setor de transportes, garantindo a igualdade de gênero.

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  • SETOR PRIVADO

    Otimizar o uso de recursos humanos, econômicos e materiais, entre outros, aumentando a rentabilidade e as margens de lucro.

  • TERCEIRO SETOR

    Fornecer e receber financiamento (doadores/ONGs/Acad emia) e assistência técnica.

    Interagir com as partes interessadas para promover a implementação de medidas de impacto social, ambiental e/ou econômico.

    Aumentar a conscientização, desenvolver e disseminar pesquisas científicas e iniciativas locais públicas e privadas.

    Elevar os padrões dos produtos e serviços que os consumidores finais recebem, garantindo qualidade, inclusão e sustentabilidade.

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NECESSIDADES

  • SETOR PÚBLICO

    Fortalecer suas capacidades técnicas e o conhecimento de boas práticas e padrões internacionais.

    Facilitar e promover espaços multissetoriais para intercâmbio e coordenação.

    Eficientizar e aumentar os serviços públicos.

    Promover a indústria econômica local, regional e nacional ligada à transição energética e à descarbonização do transporte (por exemplo, programas para promover a construção local de veículos, treinamento de mão de obra qualificada para as novas tendências de transporte etc.).

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  • SETOR PRIVADO

    Identificar novas oportunidades de negócios (novos produtos e serviços, mercados, etc.).

    Receber financiamento e incentivos.

    Conhecer e aprimorar as vantagens comparativas para aumentar sua competitividade.

    Desenvolver e tornar visíveis modelos de negócios novos e mais eficientes, fortalecendo seu ecossistema.

    Gerar espaços para conversas com governos locais e nacionais.

    Manter a relevância de sua atividade no setor. Melhorar suas condições de trabalho.

    Obter benefícios públicos com a implementação de ações de eficiência/sustentabilidade.

    Ter diretrizes claras para um planejamento público abrangente para decisões de investimento.

    Participar do diálogo com o setor público e outras partes interessadas.

    Fortalecer suas capacidades técnicas e operacionais.

    Explorar novas fontes de financiamento.

    Ter apoio do setor público em termos de benefícios para treinamento/profissionalização de seus recursos humanos.

    Para garantir a competitividade e, portanto, sua permanência no mercado.

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  • TERCEIRO SETOR

    Receber financiamento para desenvolver estudos, treinamentos e histórias de sucesso que possam ser replicados na região.

    Participar de mesas-redondas de diálogo multissetorial.

    Aumento da participação no mercado de trabalho (empregos verdes e igualdade de gênero).

CONTRIBUIÇÕES

  • SETOR PÚBLICO

    Garantir acesso justo e equitativo ao transporte público e à energia para toda a população.

    Formular políticas públicas multissetoriais e realizar controles para garantir a conformidade.

    Demonstrar diretrizes claras para o planejamento integrado e coordenar intra e multissetorialmente.

    Comunique os cronogramas dentro do planejamento e acompanhe todos os setores e partes interessadas para facilitar a mudança e reduzir a resistência.

    Mecanismos de apoio claramente diretos para impulsionar/organizar a transição energética.

    Relocalizar os subsídios e implementar um esquema de incentivo para impulsionar a diversificação do mix de energia e a descarbonização do transporte.

    Analisar a tributação como um mecanismo para identificar oportunidades de promover a descarbonização (por exemplo, receitas de impostos sobre combustíveis fósseis).

    Promover boas práticas por meio do exemplo, implementando políticas em órgãos públicos.

    Exigir e apoiar boas práticas no setor privado, concedendo benefícios àqueles que as cumprirem.

    Desincentivar e restringir produtos ou tecnologias que não contribuam para a transição energética e a descarbonização do transporte.

    Promover a certificação de eficiência energética e desenvolver certificações técnicas para os operadores de transporte e infraestrutura envolvidos.

    Criar legislação e regulamentação para a adaptação durante a transição, como, por exemplo, sobre combustíveis limpos e alternativos (biocombustíveis líquidos e gasosos), bem como legislação com relação ao gerenciamento de resíduos (baterias, carros velhos etc.) e veículos adaptados.

    Desenvolvimento de incentivos fiscais para a produção ou importação de veículos mais limpos.

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  • SETOR PRIVADO

    Melhorar a eficiência tecnológica e operacional.

    Promover a vontade política e participar ativamente das mesas redondas de diálogo, facilitando a apropriação de políticas públicas.

    Compartilhamento de experiências, know-how e realização de projetos-piloto.

    Realizar monitoramento e avaliação para disseminar e alavancar o apoio político.

    Fornecer e receber treinamento para a implementação eficiente de novas tecnologias (por exemplo, eletromobilidade, biocombustíveis).

    Fornecer sinais de comportamento do mercado, especialmente a demanda de energia no setor, para facilitar a transição exigida do setor público.

    Concessão de financiamento.

    Comprometer-se com o desenvolvimento conjunto de programas com o setor público.

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  • TERCEIRO SETOR

    Gerar conhecimento (pesquisa, treinamento, casos, etc.).

    Gerar e fortalecer novas capacidades em tecnologias emergentes e combustíveis alternativos.

    Promover ações coordenadas entre os atores.

    Contribuir para garantir a continuidade e o acompanhamento das iniciativas.

    Facilitar espaços para o diálogo de forma transparente e com base na confiança e promover ações coordenadas entre os atores.

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PRINCIPAIS CONCLUSÕES

A condução da transição para formas de mobilidade mais eficientes e sustentáveis, com baixa ou zero emissão, depende da coordenação e da colaboração de todos os participantes do ecossistema. Da mesma forma, é necessário um planejamento estratégico com metas claras e um roteiro para possibilitar a mudança, bem como estruturas regulatórias que impulsionem a geração e o uso de energia limpa, instrumentos para impulsionar melhorias tecnológicas em veículos e outros elementos do sistema, conscientização e envolvimento da população, desenvolvimento e divulgação de estudos especializados e aplicação de práticas recomendadas e iniciativas locais públicas e privadas, entre outras ações necessárias para gerar mudanças.

A análise mostra como as necessidades de um grupo podem ser atendidas por as contribuições de outros, demonstrando assim a importância e a necessidade de trabalhar em conjunto para promover órgãos multissetoriais e de múltiplas partes interessadas que levar à articulação e à integração de esforços.

O setor privado tem grande interesse em manter a lucratividade de suas atividades, com o objetivo de gerar um impacto positivo em seu ecossistema. Suas necessidades, interesses e contribuições variam de acordo com sua função. 

Por sua vez, o terceiro setor contribui para a geração de conhecimento e a capacitação, bem como para garantir a continuidade das iniciativas de descarbonização. Ao aumentar a conscientização do consumidor, o terceiro setor pode influenciar a curva de demanda de modo que o mercado mude para uma maior eficiência energética como uma transição para a descarbonização, bem como outras medidas, como o uso de transporte multimodal, onde há uma oferta para que o usuário tome a decisão de usá-lo.

Tanto o terceiro setor quanto o setor privado compartilham a necessidade de fazer parte do diálogo com o setor público. Ao mesmo tempo, ambos os setores concordam que têm recursos para contribuir com seus conhecimentos técnicos e experimentais para fomentar a replicabilidade e a promoção da eficiência em seu próprio setor e em outros setores. Essas contribuições complementam a necessidade do setor público de fortalecer suas capacidades técnicas, simplificar seus processos e aumentar seu conhecimento de boas práticas.

O setor público tem a possibilidade de satisfazer as necessidades do setor privado ao definir políticas públicas claras que demonstrem planejamento e diretrizes lógicas para que o setor privado possa orientar suas ações, reduzindo a incerteza dos investimentos a serem feitos. Se esse cenário existir, ao aplicar mecanismos de monitoramento, sanção e apoio, o setor público poderá exigir e promover seu cumprimento.

Por sua vez, o terceiro setor pode contribuir para o monitoramento e a prestação de contas das políticas públicas e estratégias privadas, assumindo uma posição de observador e gerador de dados. Ao mesmo tempo, representa uma área de oportunidade para colaborar por meio de seu capital humano e de conhecimento, bem como por meio de demandas sociais, para a definição e a realização de estratégias, como a implementação de novos modelos de negócios bem-sucedidos e sustentáveis.

PAPÉIS DOS AGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS

À luz da análise dos atores envolvidos no nexo entre os setores de energia e transporte, surge a pergunta sobre o que cada tipo de ator pode fazer para promover e cooperar na criação e implementação de estratégias privadas e políticas públicas que promovam a descarbonização do transporte.


Identificar e definir as funções dos agentes públicos e privados no desenvolvimento de estratégias e políticas públicas para a descarbonização do transporte é uma ferramenta valiosa para contribuir com a superação de barreiras e restrições à descarbonização. Ao mesmo tempo, permite identificar oportunidades de cooperação e sinergia.


Atuar de forma coordenada permite alcançar objetivos mais ambiciosos de maneira mais eficiente, gerando fortalecimento institucional e aprimorando processos para avançar com estratégias privadas ideais e políticas públicas com horizontes amplos e definidos. A seguir, algumas das principais funções dos atores públicos e privados, obtidas a partir do trabalho realizado nos workshops:

  • Atores privados
  • Atores públicos

ATORES PRIVADOS

  • ESTRATÉGIAS PRIVADAS

    Alinhar seus interesses e atividades às metas de descarbonização de seu país e aos ODSs em geral.

    Compartilhar conhecimentos, dados e experiências sobre o funcionamento do setor, bem como sobre descarbonização e substituição de tecnologia. Gerar inovação de técnicas e tecnologias que apoiem a descarbonização dos setores.

    Agilizar a P&D, disseminar os benefícios das tecnologias disponíveis no mercado e gerar alianças estratégicas com o meio acadêmico.

    Trocar boas práticas e lições aprendidas entre os atores do setor privado por meio da coleta de informações de linha de base, inventários e avaliação de seus resultados.

    Otimizar os processos de produção para aumentar sua eficiência.

    Buscar eficiência em seus processos por meio de acordos com outros agentes privados e simbiose industrial.

    Não reduza a qualidade de seus serviços/produtos para obter apenas redução de custos.

    Coordenar/gerenciar estratégias conjuntas com o setor público.

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  • POLÍTICAS PÚBLICAS

    Participar/envolver-se na formulação de políticas públicas e regulamentações para transmitir seu ponto de vista em relação à viabilidade técnica e econômica/financeira.

    Fornecer uma perspectiva mais ampla sobre as necessidades e barreiras enfrentadas pelo setor para contribuir com a descarbonização.

    Facilitar espaços de diálogo que facilitem a criação de estratégias e planos alinhados às políticas públicas.

    Participar ativamente da elaboração de políticas públicas dentro da estrutura de uma agenda climática de longo prazo do Estado e, a partir disso, podem ser derivados projetos futuros e instrumentos de gerenciamento.

    -Compreender que o Business As Usual (BAU) é insustentável para a sociedade e que o contexto global exige mudanças de todas as partes, mesmo que isso ameace a sustentabilidade de seus negócios.

    Esclareça às autoridades públicas quais são os gargalos individuais e setoriais para atingir as metas que o agente público exige. Além disso, explicite as necessidades regulatórias que o agente privado possa ter (por exemplo, facilitar a legislação sobre novas tecnologias).

    Criar um ambiente competitivo, transparente e favorável às economias de escala para promover a descarbonização do setor.

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ATORES PÚBLICOS

  • ESTRATÉGIAS PRIVADAS

    Facilitar espaços de diálogo que promovam a criação de estratégias e planos privados alinhados.

    Desempenhar um papel proativo no fornecimento de dados sobre as atividades do setor.

    Explique as necessidades que eles podem ter no setor para ações privadas, como dados e ações precisas.

    Definir metas e sub-metas claras e proativas necessárias para descarbonizar as atividades de transporte e alcançar a sustentabilidade energética limpa.

    Aplicar incentivos adequados e regulamentações restritivas para alcançar os resultados desejados de acordo com o contexto.

    Avaliar a realocação de subsídios para alavancar ações privadas relacionadas à descarbonização.

    Desenvolver mecanismos e instrumentos financeiros para facilitar a implementação de novas tecnologias.

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  • POLÍTICAS PÚBLICAS

    Criar ambientes favoráveis à transição por meio de políticas, incentivos, desincentivos e restrições, com metas e objetivos claros.

    Manter a coerência entre esforços e interesses dentro dos sistemas de governança (evitando conflitos entre políticas fiscais, energéticas, de saúde, ambientais, de transporte, etc.).

    Reformular e/ou atualizar políticas que atualmente geram ambiguidade no discurso e na ação.

    Integrar a equidade de gênero e a redução das desigualdades nas políticas relacionadas à descarbonização do transporte e seu nexo com a energia.

    Mapeamento das necessidades, interesses, desafios e oportunidades de todas as partes interessadas relevantes em relação a um determinado objetivo de política.

    Facilitar as transições de setores que serão impactados negativamente pela descarbonização de diferentes atividades, como, por exemplo, indústrias que passarão por um processo de transformação de seus produtos ou serviços oferecidos.

    Estabelecer e monitorar indicadores. Realizar a avaliação das iniciativas desenvolvidas em busca da descarbonização, garantindo a disponibilidade e a transparência dos dados públicos.

    Permitir e apoiar, por parte do setor público, a geração de condições adequadas para o trabalho multissetorial e a governança inclusiva (comitês, grupos de trabalho, comunidades de prática, etc.).

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PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Se as funções das partes interessadas estiverem alinhadas na definição de estratégias privadas e políticas públicas, o processo de descarbonização do transporte e a sustentabilidade energética de longo prazo serão acelerados.

O papel do setor público é formular políticas e regulamentações que proporcionem um ambiente atraente para o investimento e o desenvolvimento do setor privado, ao mesmo tempo em que protege os direitos dos indivíduos e garante a proteção ambiental e a continuidade das políticas estabelecidas.

Os agentes privados podem desempenhar diferentes papéis, dependendo dos pontos de conexão entre o setor de energia e o de transporte que são analisados, por exemplo, a geração de energia limpa, a operação de redes elétricas, o desenvolvimento de novas tecnologias, a infraestrutura de carregamento, a fabricação e o fornecimento de equipamentos e combustíveis, o treinamento de pessoal técnico e operacional, o desenvolvimento de modelos e instrumentos financeiros inovadores e o fato de ser um usuário de outros serviços, entre outros. Suas interações com o setor público podem ser de natureza diferente, dependendo de sua função. Em termos de formulação de políticas públicas, o setor privado pode fortalecê-las, contribuindo com sua visão do negócio a fim de criar estratégias de longo prazo que reúnam seus próprios interesses e os do público.